Aqui não se lê grego nem alemão, nem nada se escreve a não ser em português, mas, pelo menos, veste-se 44.
29.11.11
28.11.11
O aforista
Dizia Canetti que os grandes aforistas lhe pareciam todos bons conhecedores uns dos outros. Em muitos momentos, a mim chegam a parecer (e talvez não só a mim, tamanha a quantidade de equívocos nas atribuições) uma única pessoa.
Prêmio
Tudo quanto um homem precisa é de uma mulher que lhe cumpra os requisitos mais caprichosos. Fossem as mulheres dos sonhos encontradas ainda cedo e mais freqüentemente, e de muita babaquice nos veríamos poupados.
Literatura
Quanto mais exclusivo o domínio de uma técnica, maior o valor atribuído a quem a exerce, seja a qualidade do exercício qual for. E como toda a gente, que sempre sonhou e teve opinião, já lê e escreve...
26.11.11
25.11.11
24.11.11
23.11.11
Vitória
Minha única vitória na vida terá sido encontrar mulher disposta a compartir comigo as derrotas.
18.11.11
Duas respostas à formiga
Porque não pode haver no mundo cretinice maior do que a daquela formiga, deixo após a versão de Bocage para o poema de La Fontaine duas respostas, das várias que, porventura existindo, eu desconheça.
A cigarra e a formiga
Tendo a cigarra em cantigasFolgado todo o verão,Achou-se em penúria extremaNa tormentosa estação.
Não lhe restando migalhaQue trincasse, a tagarelaFoi valer-se da formiga,Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,Pois tinha riqueza e brio,Algum grão com que manter-seTé voltar o aceso estio.
“Amiga, — diz a cigarra —Prometo, à fé d’animal,Pagar-vos antes de agostoOs juros e o principal.”
A formiga nunca empresta,Nunca dá, por isso junta.“No verão em que lidavas?”À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: “Eu cantavaNoite e dia, a toda a hora.— “Ó! Bravo! torna a formiga;Cantavas? Pois dança agora!”
Ao que responderam, em 59, o português Miguel Torga:
Fábula da Fábula
Era uma vezUma fábula famosa,AlimentíciaE moralizadora,Que, em verso e prosa,Toda a gente inteligente,PrudenteE sabedoraRepetiaAos filhos,Aos netosE aos bisnetos.À base duns insectos,De que não vale a pena fixar o nome,A fábula garantiaQue quem cantavaMorriaDe fome.E, realmente...Simplesmente,Enquanto a fábula contava,Um demónio secreto segredavaAo ouvido secretoDe cada criaturaQue quem não cantavaMorria de fartura.
e o italiano Eugenio Montale, em versos só publicados, postumamente, em 96, vertidos aqui por Ivo Barroso:
Qual a diferençaentre a cigarra e a formiga,entre o dissipador e o parcimonioso,se um e outro acabarão despidosno fim da viagem que a todosnos iguala? “Nem vencedor,nem vencido”, o dito popularserve decerto para assinalara mortal armadilha das escolhas.Como barcos quiséramos vogara plagas bem melhores, mas ficamosancorados ao nosso nada.
Discussão — já milenar, se se leva em conta que La Fontaine repetia Esopo — da qual eu destacaria duas coisas. A primeira delas: embora não tenha ajuntado, a cigarra não passou o verão coçando, como se diz. Esteve muito ativa: “... Eu cantava / Noite e dia, a toda hora.” — o “folgado”, logo do princípio, é coisa da cabeça de Bocage, não havendo no original (“La cigale, ayant chanté / Tout l’été”). A segunda, a convergência complementar. Se Torga aponta a morte em vida de muitos vivos (meras “bestas sadias”, que nos enchem o globo), Montale aponta para a morte da qual não escapará mesmo o mais providente.
Comédia
Antônio Vieira, em carta de 28 de fevereiro de 1658 ao também padre Francisco de Avelar, a propósito da impressão de seus papéis:
... Não há maior comédia que a minha vida, e quando quero ou chorar ou rir, ou admirar-me ou dar graças a Deus ou zombar do mundo, não tenho mais que olhar para mim.
15.11.11
14.11.11
Autoimagem
No ritmo que com o passar dos anos minha autoimagem diminui, calculo chegar à velhice não me achando mais que gênio.
11.11.11
Autocontrole
A primeira coisa que faço todos os dias, quando me levanto, é jurar nunca mais pôr os olhos sobre nada pessoal na internet. A segunda, é entrar no Facebook.
Promessa
São já tão poucas as idéias, e sem um blog mesmo elas se perdem. A promessa é de que dure até que torne a me matar de vergonha.
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