21.12.11

Morreu, acabou

Falta ao Livro de Jó um futuro conceito-chave tanto do judaísmo como do cristianismo: a idéia de juízo post mortem. E porque lhe falta esse conceito, toda a crise quanto à justiça retributiva. Se Deus é bom, por que os justos sofrem e por que prosperam os ímpios? Mais tarde, poder-se-á dizer que, ainda que ela falhe nesta vida, não falhará na outra, como nos garantem, por exemplo, os evangelhos: bem-aventurados os pobres no espírito porque herdarão o Reino, e ai dos ricos porque já tiveram aqui o seu consolo. Mas Jó ainda não sabia pensar assim. Que Deus fizesse justiça enquanto era tempo, ou de modo algum a faria. E esse tempo era, naturalmente, o da curta vida humana — “flor que se abre e logo murcha” (XIV, 2) —, uma vez que, na morte, todos se igualam,
... pequenos e grandes se avizinham (III, 19.), 
e, se têm as árvores alguma esperança para depois de cortadas, 
O homem, porém, morre e jaz inerte;
Expira o mortal, e onde está ele? (XIV, 10.)