Há dias em que luto pelo sono com a obstinação de uma criança contra ele, igualmente em vão.
30.6.12
26.6.12
Relógios
Ben sei que non hai nada
novo en baixo do ceo,
que antes outros pensaron
as cousas que ora penso.
E ben, ¿para qué escribo?
e ben, porque así semos,
relox que repetimos
eternamente o mesmo.
novo en baixo do ceo,
que antes outros pensaron
as cousas que ora penso.
E ben, ¿para qué escribo?
e ben, porque así semos,
relox que repetimos
eternamente o mesmo.
CASTRO, Rosalía de. Poesia. Traducción, selección y prólogo de Mauro Armiño. 7ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 1999. 109 p.
21.6.12
Modernismo
A grande obra da primeira geração modernista, a única que a sobreviveu: a língua em que escreveram as seguintes.
18.6.12
João Ternura
Livro póstumo do mineiro-carioca (mais um) Aníbal Machado (1894-1964), só publicado em 65, João Ternura começa como um livro de José Lins do Rego: a infância na chácara paterna; as inundações do rio que a corta; a amizade com o negro Isaac, filho de uma das libertas da casa, de quem ele gosta mas abusa; o fascínio pelas mulatas; a paixão platônica das tias solteiras; o beijo furtivo na prima, meio perdida; o avô excêntrico, que se orgulha do atrevimento e o prognostica um novo Napoleão...
Mas, enquanto muda a economia do país; enquanto, com isso, a família quebra e vende a chácara, chega esse João que dá nome ao livro à capital da conturbada república, — o que o torna algo que o romance nordestino, por maior que tenha sido, não pôde nos dar: um retrato da vida carioca.
Esse João Ternura, rei do pequeno mundo que era a propriedade do pai, no interior de Minas, aparece ao fim da adolescência no Rio de Janeiro. Não um Rio de Janeiro qualquer, mas o da Revolução de 30, da qual participa de modo cômico e todo próprio; o Rio de Janeiro do comunismo clandestino, cujas ações acompanha sem muita compreensão; o Rio de Janeiro dos discursos patéticos em praça pública e do trabalho à paisana da polícia ideológica; o Rio de Janeiro dos grã-finos (sempre bestas) e da gente do morro, entre os quais transita igualmente alheio; e, mais impressionante que tudo, o Rio de Janeiro do carnaval em todo seu esplendor catártico: narra Aníbal Machado, entre muitos outros episódios, o do indivíduo que, sem qualquer fantasia, se apresenta hieraticamente como Deus, despertando a fúria de uns poucos e a temerosa reverência da maioria, que passa a segui-lo pelos bairros do subúrbio...
Aparece nesse Rio de Janeiro — e naufraga. João Ternura é, assim, a história de um fracasso. A história de uma inadaptação. Inadaptação à nossa vida, já que estão lá nossos bairros, nossas ruas. Estão lá os tipos cujas sombras vemos até hoje, não obstante as mudanças.
Especial, ainda, é a forma empregada. O livro dispensa a forma tradicional do gênero romance, uma vez que é todo ele feito de fragmentos agrupados em ordem perceptivelmente cronológica, mas ainda assim descontínua, sendo alguns deles, inclusive, bastante líricos.
Quanto ao estilo, o primor se explica tanto pelas várias redações por que o livro passou ao longo dos anos, como pelo fato de Aníbal Machado ter escrito pouco. Segundo testemunho de escritores próximos, a história de João Ternura começou a ser escrita ainda na década de 20, logo se tornando, graças à propaganda entusiasmada daqueles para quem lia trechos, uma espécie de lenda. Tanta expectativa em torno de um projeto ainda embrionário, informe, acabou por intimidá-lo, travando-o. Só muito mais tarde, ao vê-lo já no esquecimento, é que o retoma, falecendo pouco depois de, tendo-o finalizado, encarregar da publicação o amigo Carlos Drummond de Andrade.
13.6.12
Os dias, ontem e hoje
Vejo por toda parte gente alarmada com os restos de influência da religião na sociedade. Para onde olho há gente empenhada na extinção dos preconceitos remanescentes dessa antiga influência. Dizem eles que não são piores que ninguém por descrerem de Deus. Muito pelo contrário, são até melhores, mais racionais, só dando crédito àquilo que palpam e vêem; ou àquilo que alguém viu e palpou, desde que num laboratório. E depois lembram Chaplin. Logo a seguir, lembram Hitler...
O que não vejo combaterem é o estigma sofrido pelos que se abstêm dos dias comemorativos. O sujeito que, no Dia das Mães, não dá à sua um presente, ou com ela não almoça fora; aquele outro que, na Páscoa, não dá um maldito ovo de chocolate para os de seu conhecimento; ou ainda o que não enche o peito de sublime fraternidade por volta do 25 de dezembro, enquanto esvazia o bolso... São esses nossas maiores vítimas. Quem pode ainda sonhar com a manutenção de um namoro se, no dia 12 de junho, não dá flores ou bombons à respectiva, ou não a leva para jantar mal num restaurante lotado?...
A verdade é que estamos obrigados hoje à participação na papagaiada social como estiveram nossos avós obrigados a participar, ontem, da religiosa. Já podemos desprezar com alguma tranqüilidade o calendário da Igreja, coisa que eles não puderam, contanto que cumpramos sem muito caso com o do Comércio.
7.6.12
Problemas nacionais
Um de nossos maiores problemas é precisamente o de eles não afetarem justo os que os poderiam resolver.
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