Para ser-se um motorista ideal, daqueles louvados pelas campanhas publicitárias em favor da paz, é preciso, antes e acima de qualquer coisa, não ter culhões. Àqueles que infelizmente os têm, se querem ainda por-se atrás de um volante mas sem verem sua honra conspurcada pelo primeiro taxista com que por acaso cruzem, resta uma única alternativa, que é saírem de casa dispostos a matar. Um terceiro grupo de homens, porém, — composto por aqueles que, tendo algum amor-próprio, são demasiado preguiçosos para tirarem a vida de alguém que, houvesse alguma justiça nesse mundo, em primeiro lugar nem a tinha recebido, — um terceiro grupo de homens, porém, abstém-se da estúpida brincadeira, indo e vindo de ônibus, metrô, ou mesmo táxi, — passando incólume por entre a turba de humilhados e ofendidos, quando não de homicidas consumados ou futuros, de que é feito o trânsito das grandes cidades.