14.11.12

Desábito

De João Cabral, são famosas a neurastenia, a incapacidade para a música e a fascinação por Sevilha. Menos público, porém, é seu gosto por futebol. Que João Cabral não só apreciava — há poemas muito apropriados sobre o tema, obras de um entendedor —, como praticava. Ainda novo — sendo mais exato, em 35, aos 15 anos —, embora torcedor do América de Recife, chegou a disputar (e ganhar) um campeonato juvenil pelo Santa Cruz, como voltante — cerebral de mais para zagueiro e antilírico em excesso para camisa 10, acabou no meio-termo da cabeça de área. E é àquele América, aliás, que dedica um poema cujos primeiros versos são perfeitos na fixação de qual seja a grande e talvez única vantagem do fracasso esportivo mas não só:
O desábito de vencer
não cria o calo da vitória;
não dá à vitória o fio cego
nem lhe cansa as molas nervosas.