Uma das grandes faltas na literatura brasileira é a da generosa contribuição, nela, de espíritos curiosos, aventureiros. Nossos escritores foram sempre raquíticos ou balofos homens de salão, afeitos à segurança cômoda de seus gabinetes. Nunca tivemos um Melville, um Stevenson, um Hemingway, um Conrad e outros cuja fama desconheço. Mesmo o valoroso Alencar, buscando formular seu bem-intencionado indianismo, — e tendo índios ali na esquina —, o fez com um dicionário de tupi sobre a mesa. Mesmo Mário de Andrade, depois dele, pretendendo sua releitura da coisa, tratou de encomendar sua bibliografia etnográfica. Selva nem pensar. Também os escritores que andaram presos, encrencados com a polícia política, não o foram por qualquer ação temerária que tenham praticado, mas pelo que andaram publicando em jornais e revistas, só de onda. Todos frouxos, apáticos. O que é de se lamentar, uma vez que o único brasileiro que levantou o rabo da escrivaninha para uma excursão antes de se pôr a escrever foi justo o autor do nosso livro mais singular, mais desconcertante. É verdade que Euclides da Cunha não foi protagonista de rigorosamente nada — não pegou em armas contra Canudos, mero repórter que era —, mas teve pelo menos o mérito de ser testemunha de um grande e trágico episódio, em outro mundo, entre outra gente.