De repente nos aparece recurvada e ressequida feito uma árvore morta, tremendo como esta árvore sob um vendaval, mal se aguentando sobre o andador, e pedindo aos gritos, entre ais, que alguém a ajudasse pelo amor de Deus que eu estou passando mal.
Bem à minha frente, aflita como se diante da própria mãe, e indignada com a visão de tamanho desamparo, uma dona, enquanto providencia uma cadeira:
— Mas, minha senhora, a senhora não tem um filho, uma filha?
— Ai, meu filho morreu.
— Mas nem uma cuidadora?
— Ai, meu filho morreu.
— Mas nem uma cuidadora?
— Tenho. Cuidadora eu tenho.
— E cadê ela, minha senhora?
Ao que a velha, já acomodada e mais calma, com a placidez de quem dá um bom-dia:
— Foi fazer um aborto.
E enquanto cada um de nós se entreolha, duvidoso de que houvesse escutado direito, repete:
— Foi fazer um aborto.
*
Ao mesmo tempo, num canto próximo, o gerente tenta explicar a outro cliente que a dívida que ele (admirado de a ter contraído) questiona se deve unicamente ao fato de ter gastado mais do que recebe. Aparentemente em vão.