Não faz muito tempo descobri, com a leitura do Livro de Travesseiro, de Sei Shônagon, dama de honra de uma imperatriz japonesa do século X — espécie poética de diário, de uma sensibilidade quase única, com incríveis duas traduções diretas para o português —, que os homens e mulheres da corte podiam conversar livremente entre si, desde que separados por um biombo. Não faço a mais mínima ideia de quando o costume terá sido abolido, mas, num dos Contos da palma da mão, de Kawabata, escrito na década de 20 do século passado, encontro o que me pareceu um resquício. Uma jovem personagem feminina, incomodada com a insistência com que o também jovem e apaixonado interlocutor a encara, não vê alternativa senão em esconder o rosto com a manga do quimono, obrigando-o a retratar-se. E vinha com essas coisas na cabeça quando hoje, por acaso, encontro isto.