7.10.13

“Machadismos”

As pessoas já até sabem que não se deve confundir os personagens de um romance com seu autor. Mas parecem cochilar quando o personagem é também o narrador. Ora, apesar de escritos por Machado de Assis, Memórias Póstumas, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires têm por autores, respectivamente, Brás Cubas, Bento Santiago e o conselheiro Aires. Razão pela qual, se há quem exagere nas digressões, nos capítulos inúteis, nas citações pernósticas dos clássicos, nas reflexões pseudofilosóficas, nas metáforas batidas e/ou constrangedoras, — nas pirotecnias, em suma —, esse não é propriamente Machado, e sim as figuras patéticas de Brás Cubas e Bentinho, finas flores da indigência nacional. Tanto assim que os tais defeitos, os tais “machadismos” de que até hoje se queixam, não se encontram nos escritos do último, o velho Aires, que, ao contrário dos outros dois, se mostra alguém respeitável. O que significa dizer que talvez não fosse o Joaquim Maria quem tivesse, entre outros cacoetes, o vezo provinciano do eruditismo, o afã subdesenvolvido de passar por lido, educado, íntimo de gregos e latinos, mas mais possivelmente os filhos das boas famílias brasileiras, de cuja cara ele ri ao pô-los escrevendo como escreveram.