Vício mais recentemente adquirido: Milan Kundera. Nada menos que o quarto ou quinto livro do escritor tcheco em sequência quase ininterrupta.
Sequência começada pelos ensaios, com os quais se aprende um caminhão de coisas, que vão desde as discussões sobre a natureza do romance à relação da evolução deste com a da música, passando por todos os seus santos de eleição (Cervantes, Kafka, Nietzsche), dos quais fala com insistência.
Kundera é um ensaísta estupendo. E, por sorte, faz ensaio mesmo quando faz romance, que acaba lhe servindo quase como pretexto, ou ilustração.
Quarto ou quinto livro dele em sequência, como eu disse, o que talvez se explique por outro defeito, que pelo menos a mim não incomoda, antes o contrário: além de entremear a narração com divagações filosóficas (o que é para muitos um crime, acusação da qual se defende com Rabelais, Fielding, Tolstói e sobretudo Musil), seus vários romances não passam, no fundo, de um único e interminável livro no qual vai elaborando sua dúzia de intuições fundamentais, todas do mais digno interesse.