Gregório de Matos, num dos raros momentos de folga à cretinice, sobre a dissimulação, tão cara ao XVII e tão caluniada a partir do XIX:
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno e calo, tão fino e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento,
Com que para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh! do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.