Não me lembrava de em toda minha vida ter visto uma mulher madura, mãe de família, figura de matrona, mal se aguentando em pé de tão bêbada a caminho de casa, na rua já vazia da madrugada, num expediente tão masculino. Realmente não lembrava. E se não bastasse o impacto já grande da visão — uma mulher que bem poderia ter filhos da minha idade, com suas quatro sacolas de supermercado nas mãos, duas de cada lado, um vestido protocolar até o joelho, botões frontais de cima a baixo, a cor mais neutra, mais discreta possível, envergada, ziguezagueando pela calçada —, aconteceu ainda de ela, no momento exato em que nos cruzávamos, ter parado e perguntado, a voz o próprio desconsolo: “Você me desculpa?” Desculpar o quê, minha senhora? o estado em que volta pra casa? — fiquei pensando, enquanto respondia ainda confuso, mais pra mim do que pra ela e sem exatamente me deter: “Desculpo, claro que desculpo.”