8.4.14

O pedido

Não me lembrava de em toda minha vida ter visto uma mulher madura, mãe de família, figura de matrona, mal se aguentando em pé de tão bêbada a caminho de casa, na rua já vazia da madrugada, num expediente tão masculino. Realmente não lembrava. E se não bastasse o impacto já grande da visão  uma mulher que bem poderia ter filhos da minha idade, com suas quatro sacolas de supermercado nas mãos, duas de cada lado, um vestido protocolar até o joelho, botões frontais de cima a baixo, a cor mais neutra, mais discreta possível, envergada, ziguezagueando pela calçada , aconteceu ainda de ela, no momento exato em que nos cruzávamos, ter parado e perguntado, a voz o próprio desconsolo: “Você me desculpa?” Desculpar o quê, minha senhora? o estado em que volta pra casa?  fiquei pensando, enquanto respondia ainda confuso, mais pra mim do que pra ela e sem exatamente me deter: “Desculpo, claro que desculpo.”