2.5.14

Admissão

Foi duro mas inevitável chegar ao fim da adolescência e me ver obrigado a admitir que não, eu não era melhor do que o tempo em que vivia, nem mesmo melhor do que o país em que havia nascido, do qual aliás nem teria meios de me livrar caso quisesse. Foi duro, inevitável e cheio de consequências talvez incalculáveis, dentre as quais a principal eu conheço e é a seguinte: desde então, nada se tornou pra mim mais inútil, mais incompatível comigo, mais inconveniente, que o discurso daqueles que — ora pelo apego a uma ideia parcial do passado, ora pela filiação a uma cultura estrangeira mais prestigiosa, ora pela participação no agenciamento de determinado futuro — falam como se de fora do tempo em que vivem, do país em que nasceram, da espécie a que pertencem...