Carlos Fuentes, escritor mexicano falecido não faz muito, é autor de um ensaio belíssimo chamado, vejam vocês a consideração, “Machado de La Mancha”. Nunca o li, mas soube que nele Fuentes chama de milagre pra cima ao nosso Machado — um herdeiro solitário de Cervantes em pleno realismo romântico e naturalista oitocentista e, não bastasse isso, ainda por cima no Brasil, esse grande cu do mundo.
Acontece que Fuentes foi muito amigo de Milan Kundera, compartilhando com este a mesma concepção alternativa de romance. Se conheceram primeiro ainda na República Tcheca, quando Fuentes foi até Praga com García Márquez e Cortázar só pra conhecê-lo. E depois que Kundera se exilou na França, passaram a se frequentar com regularidade, já que Fuentes era embaixador do México em Paris justo naquele período, anos 60 ou 70, nem sei.
E se relembro esses dois fatos aparentemente sem relação é apenas porque de repente fiquei imaginando Fuentes falando pra Kundera sobre Machado, um autor que este certamente teria colocado em seu panteão, assinalando-o como precursor junto de Sterne, Diderot, Musil, Broch. E fiquei lembrando o que o próprio Kundera diz sobre o isolamento das línguas periféricas. Segundo ele, qual seria hoje a importância mundial de Kafka, tivesse este escrito em tcheco? Nós, infelizmente, sabemos a resposta.