3.11.14

Miseráveis

É 15 de julho de 1949, e Camus está no carro do poeta Augusto Frederico Schmidt, então uma grande referência nas letras brasileiras apesar de hoje completamente esquecido, — Schmidt que havia cometido a grande infâmia de enriquecer como empresário, algo indigno de um vocacionado pelas Musas, sobretudo por Musas como as dele, espirituais, místicas, bíblicas, francesas, católicas: foi dono de uma prosaica rede de supermercados, entre outros empreendimentos. Mas, como eu ia dizendo, é 15 de julho de 1949, e Camus está no carro do poeta e empresário Augusto Frederico Schmidt, e nos conta:
No automóvel, peço que não me levem a um restaurante de luxo. E o poeta emerge de seus 150 quilos e me diz, com o dedo em riste: “Não há luxo no Brasil. Somos pobres, miseráveis”, dando tapinhas afetuosos no ombro do motorista engalanado que dirige seu enorme Chrysler.
(Além de judeu e católico, poeta e empresário bem-sucedido, místico e obeso, Augusto Frederico Schmidt foi presidente do Botafogo. Que biografia.)