No primeiro capítulo do romance, Robinson Crusoé aparece um misto de Filho Pródigo com Jonas, que decide abandonar a casa paterna para se aventurar pelo mundo, levando desgraça a toda uma embarcação com sua presença, já que chega até ela depois de o pai lhe assegurar uma vida de infortúnio caso se negasse a cumprir o fácil destino que lhe estava reservado. E que destino era esse? O da mediocridade burguesa, elevada aí a verdadeira sabedoria, a verdadeira bem-aventurança. Assim como Jonas carrega consigo o naufrágio quando desobedece a Deus e foge, da mesma forma Robinson Crusoé desperta a ira divina ao rebelar-se contra a tranquilidade inócua de sua arqui-invejada “condição média”, e isso em troca ou “dos sofrimentos e das asperezas, dos trabalhos e das dores da fração mecânica da humanidade”, ou “dos embaraços que o orgulho, o luxo, a ambição e a inveja podem trazer para a camada superior”.