9.4.15

O ridículo da generosidade

A grandeza de Dom Quixote a seus próprios olhos não depende do rebaixamento de todo o mundo à volta. A autoimagem impropriamente elevada que faz de si não surge do contraste com uma imagem impropriamente diminuída que faz do mundo — a nossa forma de ridículo. Dom Quixote julga-se indispensável a um mundo que entretanto é absolutamente digno de alguém tão extraordinário quanto ele. Não apenas o valor de suas coisas é exagerado — o seu pangaré que é o maior de todos os cavalos; a pobre lavradora, objeto de seus afetos, que é uma princesa e grã-senhora —, mas também qualquer vendinha de beira de estrada é uma fortaleza; o dono de qualquer espelunca é um nobre castelão; qualquer prostituta é uma “dama graciosa”, uma “donzela formosa”...