De A fazenda africana, da baronesa Karen Blixen (dinamarquesa que viveu por 17 anos numa fazenda de café no Quênia), livro que tem duas traduções para o português, uma já antiga do Per Johns e outra mais recente pela Cosac Naify:
A falta de preconceito dos nativos é uma coisa extraordinária para quem espera encontrar os tenebrosos tabus dos povos primitivos. Ela se deve, acredito, ao seu contato com uma grande variedade de raças e tribos, e ao animado intercâmbio humano de que a África Oriental foi palco, trazido primeiro pelos antigos mercadores de marfim e de escravos e, em nossos dias, pelos colonos e aventureiros. Quase todos os nativos, até o mais insignificante jovem pastor das planícies, teve em algum momento contato com uma enorme variedade de nações, tão diferentes entre si e em relação a ele, como um siciliano é diferente de um esquimó: ingleses, judeus, bôeres, árabes, indianos, somalis, suaílis, massais e kavirondos. No que concerne à receptividade de ideias, o nativo é mais homem do mundo do que o colono ou missionário suburbano ou provinciano, que se desenvolveu numa comunidade uniforme, com um conjunto estável de ideias. Em grande parte os desentendimentos entre brancos e nativos decorrem desse fato.