19.8.15

Silêncio

... o profundo silêncio que se foi acumulando pouco a pouco em nosso interior. Começamos a nos calar quando crianças, à mesa, ante nossos pais que ainda nos falavam com aquelas velhas palavras sangrentas e pesadas. Nós não abríamos a boca. Não abríamos a boca em protesto e por desdém. Não abríamos a boca para dar a entender a nossos pais que aquelas grandes palavras já não nos serviam mais. Tínhamos conosco outras palavras. Não abríamos a boca, cheios de confiança em nossas novas palavras. Utilizaríamos essas nossas palavras mais tarde, com gente que as compreendesse. Éramos ricos em nosso silêncio. Agora estamos envergonhados e desesperados, e conhecemos toda a miséria. Nunca mais nos livraremos dela. Aquelas grandes palavras velhas, que serviam aos nossos pais, já são moedas fora de circulação e ninguém mais as aceita. E com as novas palavras, que agora percebemos que não têm valor, não se compra nada. Não servem para estabelecer relações, são aguadas, frias, infecundas. Não nos servem para escrever livros, nem para manter ao nosso lado uma pessoa querida, nem para salvar um amigo.

(Natalia Ginzburg)