7.9.15

Singer

Era limitadíssimo o ambiente do qual Bashevis Singer tirava suas personagens, suas histórias. Chamar provinciano a tudo que o cercava seria generosidade. Mais do que afastado do centro, aquele era um mundo isolado mesmo da periferia. Em seus contos, Singer não escreveu sobre europeus cosmopolitas, também não sobre os poloneses como um todo, e nem mesmo sobre os judeus poloneses em geral, — mas sobre um grupo ainda mais específico de homens e mulheres, fruto de circunstâncias ainda mais estreitamente determinadas: certo tipo, geralmente pobre e deseducado, de judeu polonês adepto do misticismo hassídico — esse grande resquício medieval —, habitante ora de cidadezinhas interioranas, ora de ruas absolutamente insignificantes do subúrbio de Varsóvia. Além de material tão desprestigioso, enclausura-se ainda mais escrevendo em uma língua que a Segunda Guerra deixou praticamente sem leitores. Apesar disso — ou precisamente por isso, quem sabe? —, é tão magnífico, que acaba traduzido para cerca de sessenta idiomas, ilustrando talvez melhor do que nenhum outro autor moderno o preceito tão disputado — atribuído a Tolstoi — segundo o qual a universalidade, em arte, estaria na pintura da própria aldeia.