A literatura com a qual nos habituamos é cheia, entre autores e personagens, de vidas suspensas por um, dois ou mais anos, ora por guerras, ora por perseguições políticas, ora por doenças, ora por diversos outros fatores alheios a suas vontades, em trincheiras, subterrâneos, prisões, sanatórios, navios, casas, quartos, camas. E tudo isso, que tomávamos apenas como coisas de outras épocas, em meio às quais tínhamos de garimpar o que pudesse dizer respeito a nossa vida plena, autônoma, desimpedida, acima de qualquer obstáculo, começa a ter para nós, pela primeira vez, um sentido que não poderíamos desconfiar. Alguém comentou que passamos por algo que pode tornar anacrônica toda a literatura contemporânea escrita até mês passado. Mas que também nos pode aproximar como nunca, até a identificação, de autores e de obras que nos interessavam apesar da distância, de repente desfeita.