2.5.20

A prioridade daquele que vem depois

Há no Gênesis — um dos textos a que mais volto na vida — muitas reincidências, dentre as quais a seguinte: a disputa entre irmãos (por vezes gêmeos, mas nem sempre) pela preferência paterna, que de maneira intrigante recai sempre sobre os mais novos, em detrimento da prioridade natural dos mais velhos. Do início ao fim do livro — isto é, dos filhos de Adão aos filhos de José —, repete-se a vitória tumultuadora dos mais novos: Caim e Abel; Ismael e Isaque; Esaú e Jacó; Zara e Farés (gêmeos como Esaú e Jacó, tal como aqueles começam a competir ainda no ventre da mãe, já na hora do parto); Manassés e Efraim (os quais recebem do avô Jacó uma benção absurda, conferida com as mãos cruzadas, para que a mão direita pousasse sobre a cabeça do mais novo, naturalmente posto na direção da mão secundária, a mão esquerda)... Pensando nessa insistência pelo mais novo, pelo menor, pelo sem direito, parece estranho que o Cristo, para quem também “os últimos serão os primeiros”, “os humilhados serão exaltados”, tenha sido não o filho mais novo de Maria, mas justamente o primeiro, se não mesmo seu único filho (a depender da tradição), tal como, da parte de Deus, era desde o princípio o “primogênito de toda criação”, o “unigênito do Pai”, o Filho Único por excelência... Talvez por isso a importância de uma figura como João Batista, o precursor que anuncia a prioridade do que vem depois...