11.5.20

Duas associações indevidas

Um mal-entendido na chegada dos portugueses à Índia, talvez determinante na relação dos colonizadores com os nativos do Brasil: a confusão auditiva entre Krishna/Cristo, que fez alguns da esquadra considerarem a região dividida entre cristãos indianos e mouros islâmicos. Quando, poucos anos depois, chegam ao Brasil (o Bartolomeu Dias que chega com Cabral ao Brasil havia chegado com Vasco da Gama a Calicute) e não deparam a mesma religião encontrada na Índia, com templos, imagens, sacerdotes, logo cogitam a degeneração dessa gente, já sem qualquer memória do cristianismo decerto aprendido no início com o apóstolo Tomé, segundo a tradição o evangelizador dos indianos. Partindo dessas duas associações — entre índios e indianos, entre religião indiana e algum tipo de cristianismo —, os primeiros colonizadores do Brasil só conseguirão enxergar, no contraste com as notícias recebidas da Índia, aquilo que faltava aos indígenas, ou melhor, aquilo que os indígenas haviam perdido. De modo que, se a outros ocorria especular quanto à natureza primitiva dos habitantes do Novo Mundo, isto é, sua maior proximidade aos estágios iniciais da humanidade, aos portugueses só era possível enxergar neles a inconstância, a decadência, o embrutecimento.