Um irmão que mata o outro irmão; as filhas que engravidam do pai; a esposa que oferece outra mulher ao próprio marido; o pai que na última hora desiste de matar um dos filhos, depois de já ter abandonado o outro à própria sorte; o irmão que trapaceia o irmão; a mãe que ajuda um filho a enganar o outro filho; o filho que, com o auxílio da mãe, engana o pai já velho à beira da morte; o tio que engana e explora o sobrinho, que depois dá o troco ao tio e sequestra as primas; a nora que engravida do sogro; o irmão que é vendido pelos irmãos... E tudo isso, de acordo com o Gênesis, numa única família.
Assim como Paul Johnson escreveu um livro contra a influência das ideias progressistas contando fofocas a respeito de seus autores, e o chamou Os Intelectuais, imaginei um outro, nos mesmos moldes, contra as prerrogativas do monoteísmo abraâmico, intitulado Os Patriarcas...
Porque, se gregos e latinos gostavam de uma carnificina (donde os poemas épicos), os hebreus tinham clara preferência pela confusão entre parentes, o que faz do Gênesis um precursor desses programas dedicados à exposição de escândalos familiares. O autor de As Metamorfoses está para o José Luiz Datena do Cidade Alerta como o autor do Gênesis está para o Ratinho do Teste de DNA...
Inclusive, pode até ser que seja a isso a que as pessoas se referem quando falam em “civilização greco-judaico-cristã”: o encontro dessas duas preferências (sangue e vexame) na mesma grade de TV.