Desde o princípio (Ressurreição, A mão e a luva) Machado demonstra muito menos interesse em contar uma história do que em analisar caracteres. Mas a questão era: como escrever, no modelo de narração convencional do período, romances em que nada acontecia?
Machado bem que tenta, mas logo cede às exigências do gênero, e após duas tentativas que deve ter considerado insuficientes, escreve em sequência dois romances (Helena e Iaiá Garcia) que ele, na apresentação do primeiro, classifica como "romanescos", isto é, cheios de complicações, revelações, coincidências, reviravoltas. O que também não o satisfaz.
Apenas quando, com as Memórias Póstumas, Machado abandona o narrador distanciado convencional e passa a utilizar como narrador os próprios personagens, é que esse impasse acaba finalmente superado. Enfim Machado consegue empurrar os fatos para o segundo plano, agora que a perspectiva do narrador se torna suspeita, sem a sensação de insuficiência.
A partir desse novo narrador, tornou-se possível que os fatos fossem minúsculos, ínfimos, praticamente inexistentes, sem que isso atrapalhasse o pleno desenvolvimento do verdadeiro interesse de Machado, que era investigar a vida, a sociedade, as pessoas.
É por esse motivo que se pode dizer que os romances de Machado não seguiram uma progressão linear, já que o dois primeiros, Ressurreição e A mão e a luva, estão muito mais próximos de Dom Casmurro do que Helena e Iaiá Garcia, os dois que precedem Brás Cubas.
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