O problema de casos como o envolvendo o filho do homem mais rico do país e o pobre de um pedreiro é que durante quatro quintos de nossa curta história houve parcela da população excluída, oficialmente, do direito à justiça. E mesmo depois do chamado princípio da isonomia, na prática, até hoje, a distinção se verifica. De modo que, a meu ver, a grita acaba por se justificar, em função do óbvio. Tirando os tidos e havidos como ressentidos revanchistas, não há brasileiro que de fato ache justo conspurcar a tão prometedora vida de um herdeiro bilionário pela perda de um morto de fome qualquer. Dado o abismo entre as respectivas contas-correntes, aquele sujeito estaria errado ainda que fosse atropelado no quintal de casa — se é que tinha quintal; se é que tinha casa.