Verdes bulindo.
Sonata cariciosa da água
fugindo entre rosas geométricas.
Ventos elísios.
Macio.
Jardim tão pouco brasileiro... mas tão lindo.
Paisagem sem fundo.
A terra não sofreu para dar estas flores.
Sem ressonância.
O minuto que passa desabrochando em floração inconsciente.
Bonito demais. Sem humanidade.
Literário demais.
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Não é por acaso que cultivamos tanto uma planta quanto o intelecto. Nesse outro poema de Drummond aparece, em contraste com os “pobres jardins do meu sertão” da segunda estrofe, a imagem do “Jardim da Praça da Liberdade”, o qual compunha, segundo o poeta, uma paisagem deslocada, artificial, “sem fundo” e “sem ressonância”, perfeita demais para onde se encontrava, com suas “rosas geométricas” cortadas por águas cuja música vinha em forma clássica e por ventos cuja origem era grega. Um jardim “lindo”, “bonito demais”, ele admite, mas “tão pouco brasileiro”. Jardim sem participação alguma da terra, que “não sofreu” para gerá-lo, e cuja floração se dá, rápida, de modo “inconsciente”. Jardim sem a aspereza do entorno. De uma perfeição fria, distante, pouco humana... Sem consequência, como os períodos do poema, curtos, estanques. Em resumo, um jardim parnasiano. — E, não por acaso, a imagem que serve para essa cultura serve, também, para a outra. Não por acaso, a visão que teve o poeta desse jardim é, de igual modo, a que se teve daquele outro, feito de letras. Para ele, aquele era um jardim demasiado “literário”, como demasiado literária era a literatura que o antecedeu.