3.7.13

Nocaute

Julio Cortázar utiliza duas já famosas comparações para chegar a uma ideia geral do que lhe parece o conto. E o curioso é que ambas se aplicam também, e talvez até com mais propriedade, a formas literárias ainda mais breves, como por exemplo o aforismo. Em “Alguns aspectos do conto”, ele primeiro trata da semelhança do contista com o fotógrafo, cuja pretensão é a de “recortar um fragmento da realidade, fixando-lhe determinados limites, mas de tal modo que esse recorte atue como uma explosão que abra de par em par uma realidade muito mais ampla”, — diferentemente do romancista, mais próximo do cineasta no esgotamento do assunto, com uma obra aberta, distendida. Se, tal como o fotógrafo, o contista tem os limites do foco, mais ainda o aforista, dependente de uma tensão explosiva ainda maior. Logo depois os compara (romance e conto) ao boxe. O romancista, trabalhando cumulativamente, tergiversando, digressionando, indo e vindo, ganharia por pontos, ao fim de longos doze assaltos, — enquanto o contista, mais incisivo, na ofensiva desde as primeiras linhas, sem desperdício de movimento, parte em busca do nocaute. Nocaute esse que o aforista alcança, — se o alcança —, não apenas ainda no primeiro assalto, como em geral com um só golpe.