Lembro muito bem que uma das razão que me convenceram a ler António Botto — uma das, porque houve outras — foram os elogios de escritores célebres que entremeavam o volume em que estavam coligidas suas “canções”. Eram de vários e vários, mas um em particular teve peso mais decisivo: Miguel de Unamuno. Folheando o voluminho, lá para as tantas, logo antes do início de uma nova série, vinha lá um baita elogio do basco: porque o António Botto isso, a poesia do António Botto aquilo. Ora, se Unamuno o leu e o recomenda...
Até que outro dia, passando desavisadamente por um ensaio sobre a mitomania de outro poeta, dessa vez a do brasileiro Bruno Tolentino — lido e elogiado por não sei que grande poeta francês, casado com a filha de não sei que outro figurão, professor convidado de não sei que universidade inglesa —, o autor, já não recordo quem, mencionava que, caso similar ao deste, talvez só o do — acreditem — António Botto, que parece havia inventado loas e mais loas de escritores de tudo quanto é nacionalidade à sua obra, escritores os quais muito provavelmente nem nunca o leram.