PEDESTRE
No fundo da rua, um prédio público aspira o mau cheiro da cidade.
As sombras quebram a espinha nos umbrais, se recostam para fornicar na calçada.
Com um braço preso à parede, um lampião apagado tem a visão convexa da gente que passa de automóvel.
Os olhares dos transeuntes sujam as coisas que se exibem nas vitrines, afinam as pernas que pendem sob a capota das carruagens.
Junto ao meio-fio, uma banca acaba de engolir uma mulher.
Passa: uma inglesa idêntica a um lampião. Um bonde que é um colégio sobre rodas. Um cachorro fracassado, com olhos de prostituta que nos dá vergonha de ver e deixar passar.
De repente: o guarda na esquina detém com um golpe de batuta todos os estremecimentos da cidade para que se ouça, em um só sussurro, o sussurro de todos os seios que se roçam.
Buenos Aires, agosto, 1920.