22.10.14

O sangue

Poema da colombiana María Mercedes Carranza (1945-2003), tirado de El canto de las moscas (versión de los acontecimientos), livro de 1998, composto de 24 poemas muito breves dedicados cada um a uma região da Colômbia que foi cenário de algum episódio marcante de violência. O tanto de coisas em tão poucos versos: a assonância trivial de “rosas rojas”, do 3º verso, alongada pelas sibilantes “es”/“as” do verso seguinte, o único com 7 sílabas, dividindo o poema em duas partes de três versos com 3 ou 6 sílabas cada, a primeira parte a da ilusão embelezadora (o lugar comum, o verbo “poético”: “rosas rojas esparcidas”), a segunda a do choque do desvendamento (as coisas como elas são: “No son rosas, es la sangre”); o sangue que deixa de correr nas veias pra correr em “otros caminos”, os do rio; rio que é “dulce”, isto é, de águas mais densas que a água pura, graças à viscosidade do sangue...

DABEIBA
El río es dulce aquí
en Dabeiba
y lleva rosas rojas
esparcidas en las aguas.
No son rosas,
es la sangre
que toma otros caminos.