É possível que este se torne, ao longo da vida, meu poema oficial de ano-novo. Acho que já o compartilhei com esse mesmo propósito em anos anteriores, e volto a pensar nele agora em que mais do que nunca é tempo de olhar, tal qual o Jano do mês que se inicia, para frente e para trás ao mesmo tempo.
VELAS
(Konstantinos Kaváfis, trad. Ísis B. da Fonseca)
Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas —
pequenas velas douradas, quentes e vivas.
Os dias passados ficam atrás,
uma triste fileira de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.
Não quero vê-las; entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas.
Não quero voltar-me para não ver, apavorado,
com que rapidez a sombria fileira se alonga,
com que rapidez se multiplicam as velas apagadas.