1.1.15

A origem

Quando, no Diálogo em defesa da língua portuguesa — publicado em 1574 por Pero de Magalhães de Gândavo, o mesmo da História da Província de Santa Cruz —, o espanhol contra o qual a língua lusa vai sendo defendida alega que, se a língua portuguesa valesse mesmo o que ele estava dizendo que valia, “cual es la causa porque los mismos portugueses siendo ella suya la desdeñan, y por su boca confiesan ser ella la más tosca y bárbara del mundo?”, ele responde:
Esta nação portuguesa pela maior parte é mais afeiçoada às coisas dos outros reinos que às da sua mesma natureza, coisa que se não acha nas outras nações: porque todas engrandecem sua língua, e fazem muito pelas coisas que quadram nela, só os portugueses parece que negam nesta parte o amor à natureza. E daqui vem muitos a dizerem mal de sua língua, e consentirem na opinião dos estrangeiros, o que realmente se pode atribuir mais a ignorância que a razão alguma que a isso os mova.
Formidável explicação a partir da qual se descobre que todo o problema brasileiro com ser brasileiro, antes de ser um problema nosso, é a continuação do problema já português com não ser primeiro espanhol, depois francês, depois inglês, — e que, por muito paradoxal que pareça, dar as costas a Portugal talvez tenha sido o gesto mais português que o Brasil já realizou.