O grande problema da linguística — talvez maior do que a defesa da língua como ela é — se deve a que, por trás de cada um desses muitos desvios cometidos espontaneamente, existe um fundamento bem menos óbvio a ser apreendido pelos semicultos do que as meras normas gramaticais que determinam os acertos. Em outras palavras, o grande problema da linguística é que a gramática é normativa, e reivindicar o acatamento é sempre ação mais cômoda que a de compreender as causas da desobediência. Compreender o porquê dos equívocos já banais que no dia a dia mesmo a gente escolarizada insiste em cometer com a naturalidade da inconsciência requer bastante mais do que o necessário para não cometê-los. Fica parecendo maluquice para a totalidade dos leigos e não baixo número de estudantes, mas acertar um uso, ou mesmo ser capaz de elucidar suas regras, é bem menos custoso, exige bem menos, do que escavar a razão de uma possível inobservância quase generalizada.