27.6.15

Último a chegar

Quando eu ouvia dizer que Ulisses eram as 24h na vida de um homem, e que Joyce, se não foi seu criador, foi ao menos quem mais longe levou a técnica do fluxo de consciência, eu imaginava que o livro fosse todo ele um jorro interminável com os pensamentos de Leopold Bloom durante sua perambulação por Dublin — talvez por sugestão de Grande Sertão: Veredas, um monólogo aparentemente sem fim que eu algumas vezes mal comecei. Vou descobrindo agora que não é bem só isso — são muitos e variados os psiquismos a que vamos tendo acesso, não só ao de Bloom. E, para além disso, o livro — verdadeiro compêndio de procedimentos narrativos, repositório de toda forma possível de texto escrito: o jornalístico, o ensaístico, o propagandístico, o jurídico etc. — é uma colagem de tudo o que numa cidade perpassa a vida de um homem, concentrado num único dia que por sua vez são todos os dias.