21.7.16

Tempo

Ninguém conhece melhor a insuficiência do tempo que o desocupado. Nenhuma porção de tempo é mais insuficiente que a porção completa. É possível fazer algo de útil no parco tempo livre entre uma ocupação desnecessária e outra: impossível fazer algo de útil com todo o tempo livre. As vinte e quatro horas de um dia são tanto mais curtas quanto menor o número de compromissos ao longo delas. Quanto mais horas dedicadas aos interesses alheios, mais pronto alguém estará de aproveitar o esgotamento da folga. Em relação ao tempo, só é possível tirar proveito das migalhas: a visão de um banquete enfastia. A pessoa desocupada se torna muito sensível à mera ideia de ocupação. Pensar em ter que fazer inutiliza de modo cabal o não fazer nada. É preciso não dispor de tempo para ser possível a ilusão de que há maravilhas a serem feitas com ele. Do contrário logo se percebe que é igualmente desperdício não desperdiçá-lo. Não dedicar tempo ao que não interessa, aliás, priva de se achar o que interesse. O tempo livre clama por mais tempo livre. As vinte e quatro horas de um dia exigem a vigésima quinta hora a fim de se permitirem proveitosas.