Ao tomar conhecimento da traição da
mulher, um sultão decide que mandará matar ao amanhecer cada mulher com a qual
tiver se casado na noite anterior. E assim o faz, até que Xerazade tem um plano. E o
plano de Xerazade para manter-se viva é contar ao sultão a reencenação
interminável da própria condição. A cada noite Xerazade retoma a história
interrompida ao fim da noite anterior, quase invariavelmente a história de alguém que
conta uma história para escapar da morte, tantas vezes envolvendo mulheres
adúlteras. No fundo de todas as histórias, ressoando, a história arquetípica da
imaginação islâmica: a história de José. Aquele que escapa da morte e leva a
melhor sobre os que o queriam matar. Aquele que escapa do poço e chega ao
trono. Nesse sentido, José seria o primeiro conto escrito das Mil
e Uma Noites. Primeiro e talvez único: o conto que — como o quarto do
palácio de cem quartos dentro do qual há outro palácio de cem quartos — contém todos
os outros. Um conto com tanto poder sobre a imaginação islâmica, que a ele tiveram de acomodar até mesmo a história de Cristo, o qual não poderia senão ter escapado, na última hora,
de morrer sobre a cruz.
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