Todo historiador nos fala simultaneamente de no mínimo dois períodos históricos, o passado a que se dedica e o presente do próprio historiador — e com muito mais certeza deste do que daquele. Os livros de história são como aquelas superfícies cujo desenho muda conforme se passa a mão sobre elas de um lado para o outro.
Já esse é um livro — estudo a respeito das bases religiosas primitivas da organização social dos gregos e romanos — que explica tantas coisas velhas e atuais, ilumina tantos cantos obscuros da história antiga e não tão antiga assim, que parece ir nos tirando da cegueira. Enquanto o lemos, a certeza é de que finalmente começamos a entender todas as leituras que já fizemos, leituras que agora descobrimos foram todas muito precárias.
E de todas as muitas coisas que o autor desse livro nos ensina, enquanto trata da Antiguidade sob o ponto de vista da França e suas revoluções, a principal talvez seja a persistência dos gestos humanos, que resistem encarniçadamente mesmo muito tempo depois de as crenças que os fundamentavam terem desaparecido. E que isso nos faz viver quase sempre entre ruínas, em torno das quais os homens disputam uns para as terminar de derrubar e outros para mantê-las a todo custo de pé, mesmo que já sem fundamento algum.
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