13.9.22

Jesus, o pensamento grego e o envelhecimento


A familiaridade grega com o corpo se restringia a um tipo de corpo bem específico: o corpo jovem, “ideal”. À parte esse, era enorme a dificuldade dos gregos com o corpo deteriorado pela velhice e pela morte. Por esse motivo valorizavam a morte de homens novos nos campos de batalha, ainda sem as deformações da muita idade; e tentavam a todo custo ultrajar os belos cadáveres dos inimigos; e cremavam os mortos queridos para não darem oportunidade à putrefação da carne. É verdade que os gregos gostavam dos corpos, mas dos corpos congelados no tempo, como os corpos que tinham os deuses, eternamente os mesmos. De acordo com Príamo, o ancião rei de Tróia, nada era mais consternador do que avistar a nudez de um velho. E tudo isso aponta, aliás, para o fato de que Jesus (a interpretação teológica a respeito de Jesus) foi um fenômeno muito mais próprio do pensamento grego do que do pensamento judaico: um deus que toma para si um corpo, mas um corpo que chega à morte antes de experimentar o verdadeiro escândalo que era o envelhecimento e que, para livrar a carne desse corpo da decomposição da morte, ainda por cima ressuscita. 

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