31.1.23

Artur Azevedo: um Boccaccio do Rio de Janeiro, um Nelson Rodrigues do século XIX


O ensino de literatura é, muitas vezes, como se fosse um museu arqueológico. E o grande critério desse tipo de museu, longe de ser a beleza ou a qualidade intrínseca do material recolhido, é o fato mesmo de algo ter sido útil a pessoas de uma época que já desapareceu. 

Daí que o cânon nos ofereça Joaquim M. de Macedo como exemplo de romantismo, José de Alencar como exemplo de indianismo e Aluísio Azevedo como exemplo de naturalismo. E, nesse caminho, esqueça de nos apresentar os ótimos contos de Artur Azevedo, só por não serem exemplos de escola alguma. 

Na prosa, Artur Azevedo foi uma espécie de Boccaccio do Rio de Janeiro. Vários contos parecem mesmo saído diretamente do Decamerão. Mais leviano do que Machado de Assis, se assemelha a este ao menos no fato de não ter escrito segundo nenhuma escola político-literária da época. Não por acaso, daquela turma toda, os dois são donos das prosas mais "modernas", mais "atuais", menos datadas do período.

Aliás, pensando na relação do texto de Artur Azevedo com o de Machado (aproximações e distanciamentos: ambos ironistas, Azevedo mais leviano, Machado mais profundo; Machado mais palimpiséstico, Azevedo mais raso; ambos deslocados dos programas literários da época), é significativo saber que os dois não só foram amigos, como colegas de repartição. 

Nordestino radicado no Rio (Azevedo era maranhense), acima de tudo um jornalista que escrevia crônicas, contos e peças de teatro; observador indiscretíssimo da vida sexual dos cariocas do seu tempo, nesse sentido Artur de Azevedo foi um Nelson Rodrigues do século XIX.

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