7.12.16

Estratégica

As pessoas, hoje, se compadecem mais prontamente de animais que de outras pessoas, e, se com facilidade conseguem deixar um semelhante sem comida, já não suportam a ideia de um cãozinho sem xampu. Se não bastasse, um morador de rua cercado de cachorros causa menos indignação do que um morador de rua cercado de filhos. Os filhos acusam a irresponsabilidade, a imprevidência, a bruteza do sexo sem privacidade; enquanto a posse dos bichos, ao contrário, o humaniza, dá testemunho de um coração amoroso, piedoso, solidário. Além do mais, como as pessoas cada vez mais deixam de ter filhos e os substituem por animais de estimação, é muito natural que se identifiquem mais com as lutas de quem tem um cão do que com as lutas de um progenitor. Se eles não querem filhos com que gastar, como vão gastar com os filhos dos outros? Mas a experiência de tirar do desamparo um vira-latinha eles não só a conhecem muito bem, como a consideram a mais digna de recompensa. Ainda mais se a pessoa que o fez não tem o suficiente nem para si. “Precisamos ajudá-lo!”