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19.10.22

Hércules e Cristo: paralelos


Uma tentativa muito comum de refutação do cristianismo consiste em apontar uma série de velhas divindades cujas vidas teriam servido de modelo para a confecção da vida de Cristo: Krishna, Hórus, Dioniso etc. Embora soe sempre ingênuo falar-se de Jesus como uma cópia de deuses pagãos, alguns paralelos de fato existem e são muito interessantes. No caso de uma figura como Hércules tudo fica ainda mais curioso, porque, tendo perdido pelo caminho o caráter religioso, chegou até nós apenas como personagem aventuresco de literatura infantil. Mas, assim como Cristo, Hércules foi também o filho de um Deus com uma mulher, também criado pelo pai adotivo. Outra similaridade é que ambos nasceram para o benefício da humanidade (Hércules foi um salvador “mundano”; Cristo, um salvador espiritual; Hércules por meio da violência, Cristo por meio da caridade). Ambos foram aclamados pelas populações sofredoras e temidos e perseguidos pelas autoridades. Os trabalhos de Hércules equivaleriam às provações de Cristo (as provas de Hércules foram 12, como 12 foram os discípulos de Cristo). Por fim, a mesma ascensão aos céus após a morte (ou durante a morte, no caso do grego): Hércules, homem que se torna Deus; Cristo, Deus que se fez homem — ambos imortais que passaram pela morte. Hércules foi e voltou do Inferno antes de morrer; Cristo passou por lá antes de ressuscitar.

9.5.20

Reforma religiosa e reforma linguística

Foi sempre tão estreita a relação entre as religiões e a fixidez das línguas (sempre ouvi dizer que foi o zelo religioso dos hindus com suas escrituras sagradas que deu origem à gramática): as antigas religiões indianas e o sânscrito, o judaísmo e o hebraico, o cristianismo e o latim... De tal modo que nunca pôde haver reforma religiosa que não levasse também a uma revalorização linguística: os sermões de Buda sacralizam o dialeto indiano mais baixo; a mensagem de Cristo é toda ela divulgada em grego comum; os pais da igreja escrevem, e portanto elevam a outro nível, o sermo humilis dos romanos; as traduções do Lutero camponês formatam o alemão moderno... Talvez não sejam as novas crenças religiosas que, popularizadas, subvertem a escala de valores do universo linguístico a que pertencem; talvez, ao contrário, seja a ascensão das formas baixas de dizer que, fazendo caminho pela pregação desses reformadores, confrontem as crenças estabelecidas com as crenças novas que carregam em si.