29.5.21

À própria maneira

O sucesso tem o seu passo a passo. E, como toda receita, a do sucesso também basta ser seguida. O grande desafio é encontrá-la, dado que muitos a anunciam sem conhecê-la. Mas, depois de encontrada, mesmo quem nunca chegou até o sucesso é capaz de apontar o caminho a outros. Já o caminho até o fracasso é um mistério que cada um precisa descobrir por si só. Melhor dizendo, o caminho para o fracasso não pode ser descoberto, porque não existe. Precisa ser criado. Por isso jamais houve quem cobrasse para ensinar a perder, muito menos quem pagasse para aprender a ser derrotado. A derrota exige autodidatismo. Por que seguir o exemplo dos bem-sucedidos, quando se pode fracassar teimosamente à própria maneira? 

Breve história da riqueza

Os grandes ricos da Antiguidade guardavam suas riquezas em amplas salas do tesouro, por entre as quais gostavam de guiar convidados ilustres. Esses tesouros eram feitos de objetos preciosos, obras de arte muitas vezes dedicadas a templos e seus deuses. Uma riqueza trabalhada, que além do mais exigia espaço físico. Com o tempo a materialidade da riqueza (e me refiro aqui à riqueza que compra as coisas, não como coisa comprada) foi reduzida às moedas, que ainda assim podiam ser acumuladas e ostentadas, uma vez que eram de várias formas, tamanhos e ligas, além de permitirem ainda efígies e inscrições pessoais. É possível imaginar todo rico antigo mergulhando em seu imenso cofre de moedas como um Tio Patinhas. Mais recentemente vieram as cédulas, junto aos talões de cheque, e com eles uma riqueza perecível de papel, à mercê do fogo e da água. Já agora, que até mesmo os cartões beiram à obsolescência, a riqueza é cada vez mais apenas uma sequência menor ou maior de dígitos numa tela. E é a essa quantidade virtual de números que devemos toda a nossa condição na vida.

18.5.21

Uma analogia cristã


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um discípulo sugere a Mêncio que o homem virtuoso está para a natureza humana como a escultura está para a madeira. Trata-se, curiosamente, da mesma analogia utilizada por Antônio Vieira, mil e novecentos anos depois, no Sermão do Espírito Santo: os gentios são pedras que os missionários esculpem. Mas Mêncio logo descarta a imagem da virtude como violência à natureza (esculpir implica cinzelar, martelar) por considerá-la nociva e contraproducente. 
 
Em seguida, Mêncio afirma que a natureza humana tende à virtude como a água tende para baixo. E que, assim como a água só deixa de correr espontaneamente para baixo mediante um impedimento exterior, assim também o homem no que diz respeito à virtude: são as circunstâncias que o corrompem. Já um aproveitamento cristão da analogia proposta por Mêncio diria, ao contrário, que um homem virtuoso é uma água que corre para cima.