8.12.11

De Quincey

Feliz por ter lido De Quincey. Entre nós dá-se tanta ênfase ao lado intragável dos ingleses, que é maravilhoso topar com um que não adote nem endosse hábitos nem tons pretensiosos. Não há nele sombra de indiferença ou de hostilidade para com o vulgo, antes até o contrário. E só assim eu me lembro que nem todo inglês é lorde, e que afetar sê-lo, embora o seja a brasileiros, não é para eles opção.

O primeiro que li foi Do assassinato como uma das belas artes, escrito um pouco segundo o espírito da modesta proposta swiftiana. Há em tudo dois lados, um moral, outro estético. Também no assassinato. E se, num primeiro momento, lamenta-se o acontecido, num segundo parte-se para o julgamento dos meios e das artes empregados. O narrador: membro e conferencista de uma sociedade secreta dedicada ao desenvolvimento desse ramo da crítica.

O segundo, o já clássico Confissões de um comedor de ópio, livro que Borges suspeitava ter lido mais vezes, em que nos deparamos com o homem.

De Quincey, conforme conta, tornou-se proficiente em grego ainda aos 13 anos — dele dizia o único professor do qual fala com carinho que seria capaz de se dirigir a um público ateniense com mais propriedade do que ele, o professor, a um público inglês. E conhecendo mais de grego que seus docentes, se enchia de desgosto ao vê-los corrigir com o auxílio de gramáticas e dicionários as provas que ele fazia sem auxílio algum — ele que, já naquela altura, se exercitava traduzindo jornais para a língua de Homero: “It is a bad thing for a boy to be and to know himself far beyond his tutors, whether in knowledge or in power of mind.

Tão ruim, que não foi outra a causa das futuras e tamanhas desventuras.