1.4.13

Cantos indecisos

V
Neste mundo, durante a nossa vida,
Todos nós esperamos, sempre em vão.
Sempre uma luz nos olhos acendida,
Em volta, sempre a mesma escuridão.
Sempre à vista da terra prometida,
Há de morrer o nosso coração.
E assim foi, desde a mais antiga idade,
E assim será, por toda a Eternidade.

XXX
Em tudo o que julgamos ser mentira,
Vive a presença oculta da Verdade.
Num coração amante, que delira,
Num astro, numa flor, numa saudade,
Naquele infindo sonho que me inspira,
Transluz inextinguível claridade.
Não há visão quimérica e ilusória,
Nem há vida que seja transitória.

XXXV
O poeta é um pobre doido, errando, sempre além.
Deste mundo, a cantar, em vida, se desterra.
Anjo de Satanás, anjo de Deus, que tem,
Na alma toda a luz, no corpo toda a terra.

— Teixeira de Pascoaes, Cantos indecisos, 1921.