5.9.13

Luizão

Uma das grandes figuras da minha infância foi um louco manso, alvo tanto da consideração como do temor da vizinhança. Era um nêgo enorme e forte, do tipo que, contrariado ou sem os remédios, devia ser incontrolável. Andava sempre descalço, boa parte das vezes sem camisa, as mãos abrindo e fechando em espasmos, os dedos contorcidos — os dos pés, duas lanchas, eram encavalados, espremidos um por cima do outro. Lembro de vê-lo achegar-se aos adultos, sempre educado: Coisinha (era assim que tratava a todos), me dá um cigarro? Ia nas pessoas do costume, na certeza de ser atendido. E assim que os conseguia, continuava: Eu estou melhorando, não estou? Eu estou ficando melhor, você não acha? Ao que as pessoas respondiam, culpadas de não terem consigo a solução: Está, sim, Luizão, você está ótimo. Está muito bem. Ele então acendia o cigarro no isqueiro da pessoa abordada (quantas vezes o meu pai), virava-lhe as costas e prosseguia a esmo pelas ruas do bairro, os braços junto ao corpo teso, a cabeça levemente inclinada para frente, tragando a intervalos não sem alguma ansiedade.