21.11.13

“Modernismo antimoderno”

Milan Kundera tem lá seu aspecto conservador, quase reacionário. Não oculta de ninguém sua romântica nostalgia de um mundo sem o barulho e a velocidade de veículos automotores, em que a vigilância institucional não tenha sido tão inescapável, mundo esse anterior à morte da música pelo rock e ao risco de ter-se o anonimato violado por órgãos de imprensa — que não diria dos celulares com câmera e das redes sociais? Em outras matérias, porém, mais relacionadas à existência humana, aos dramas do indivíduo, é tão moderno, atual, quanto possível. Todas as suas preocupações parecem partir da premissa de que já não se pode crer em nada. E parecem girar em torno de um único questionamento, a saber: uma vez que o século XX nos mostrou a indecência de todas as grandes causas, que fazemos nós dessa vidinha vazia e sem qualquer sentido? De onde sua galeria de personagens, sempre oscilando entre as angústias geradas pela leveza do ser e a vulgaridade sexual mais elementar, espécie de jogo que lhes resta.