5.7.14

O fazedor de silêncio





















Um estilo bastante peculiar, o de Antonio Di Benedetto, fundamentado num verdadeiro horror ao lugar-comum, se bem que de natureza bem distinta ao de um Guimarães Rosa: não há espetacularidade alguma em suas frases, todas discretas, nem mesmo neologismos para além do que dá título ao livro, — frases no entanto sempre novas, inesperadas em seu rigor, precisão e exigência. Juan José Saer chega a dizer que Di Benedetto é dono de uma das dicções mais originais do século XX, juízo que, por exagerado que pareça, não é de todo injustificado. Frases discretas, sem qualquer espalhafato, eu dizia, como era de se esperar de um narrador que abominasse as interferências do ruído. Porque é precisamente disso que se trata: da saga de um homem que foge ao tormento causado pelo barulho que então começava a se tornar onipresente, no pós-guerra, por meio de fábricas, oficinas, rádios, alto-falantes... Melhor: da resistência fracassada ao barulho como metáfora de tudo quanto se impõe ao indivíduo e o impede de ser.