25.4.20

Breves notas sobre o português medieval a partir da leitura do Cancioneiro de Dom Dinis

No português medieval, “senhor” era substantivo comum de dois gêneros. O senhor, a senhor. A Virgem, por exemplo, era a “Senhor das senhores”. Toda vez que penso nisso imagino o quanto a primeira pessoa que escreveu “senhora” deve ter sido xingada e acusada de já estar querendo acabar com a língua ainda recém-nascida.

Outras duas curiosidades: o uso de “tão muito” no sentido de “tanto”: alguém que recebeu tão muito sofrimento. E a possibilidade de intercalar o objeto no meio do “senão”. Nós dizemos: não me deu senão isso. Eles também podiam dizer: não me deu se isso não.

De acordo com os gramáticos, é um erro a utilização da ênclise no futuro do presente e no futuro do pretérito. Nesses tempos verbais, devemos optar entre a próclise e a mesóclise. Mas nem sempre foi assim. E no português medieval eles também podiam dizer e diziam: “direi-vos”, “teria-se”.

Nesse português, o verbo haver ainda não se grafava com h. Com isso, a terceira pessoa do singular do verbo aver, no presente do indicativo, era indistinguível da preposição “a”. De modo que o erro “Isto aconteceu a muito tempo” era justamente o correto no século XIII.