25.4.20

O segredo de Machado

Toda vez que olhamos para Machado sem ser através dos romances e dos contos da velhice vamos encontrar o Machado comedido, cumpridor, adequado, adepto fiel de valores para nós já tão defasados. Não é nas cartas, nem nos poemas, nem nas críticas, nem nas crônicas, nem mesmo nos primeiros contos e romances, mas na ficção que começa a escrever a partir de Memórias Póstumas, que Machado supera todas essas acomodações pessoais a seu tempo e lugar e se apresenta como próximo de nós, em vários aspectos bem mais próximo de nós do que muitos de nossos modernistas. O segredo de Machado, portanto, não estava no gênio da sua pessoa, a qual, muito longe de transfigurar tudo em que tocava, podia ser tão convencional a ponto de participar da criação de uma Academia Brasileira de Letras, mas na concepção de arte a que, ao fim de muita pesquisa, aderiu e praticou, essa sim tão significativa para nós porque intimamente ligada ao cerne da crise que está na origem do homem e do mundo modernos.